Na Faixa de Gaza, palestinos vivenciam uma das mais severas crises humanitárias da história, enquanto em Israel a população enfrenta o trauma e as sequelas do maior ataque terrorista ao país.
QUDIH/AFP
Um palestino carregando uma criança corre após um ataque israelense, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
Há exatamente dois meses se deu início à guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas. Conflito começou após os ataques terroristas do dia 7 de outubro. Na Faixa de Gaza, os palestinos vivenciam uma das mais severas crises humanitárias de sua história, com cidadãos sem possibilidade de deixar o território e com acesso muito restrito a alimentos, água e remédios. Em Israel, a população enfrenta o trauma e as sequelas do maior ataque terrorista ao país. Ao longo destes 60 dias, o Hamas e o exército israelense trocaram reféns e prisioneiros após negociações mediadas por Egito e Catar que permitiram uma trégua de sete dias, interrompida após Israel anunciar que o Hamas violou o acordo lançando mísseis. Em entrevista à Jovem Pan News, a especialista em relações internacionais e colaboradora do Instituto Brasil-Israel, Karina Calandrin, as atitudes do grupo terrorista fomentam incertezas sobre o conflito: “Na trégua foram libertados uma parte dos reféns, só que agora o Hamas, que ainda tem cerca de 1oo pessoas sob sua posse, diz que não vão mais libertar os reféns, tem reféns que eles dizem que morreram e que eles dizem que não sabem onde estão”.
A especialista também aponta que o desenrolar do conflito mudou a percepção da comunidade internacional sobre a guerra: “Hoje a gente vê até mesmo aliados [de Israel] como os Estados Unidos e países europeus com um tom muito mais crítico na fala de figuras políticas do que um apoio e solidariedade irrestrita a Israel”. No início do conflito, Israel concentrou ataques na porção norte de Gaza, mas agora, sob a justificativa de deslocamento do Hamas, tem atacado também a porção sul, onde se concentram a maioria dos civis. Entre os mortos pela guerra, já são quase 15 mil do lado palestino e 1.400 do lado israelense. Nesta semana, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, destacou que o país não vai esquecer e nem perdoar as agressões sofridas em 7 de outubro. Desta forma, Israel alega que a incursão em Gaza tem a finalidade única de exterminar o Hamas, possibilidade que para muitos especialistas está fora de cogitação.
O instrutor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, major Salões, analisou o objetivo do ponto de vista militar: “O Hamas não é só um grupo terrorista, você não vai resolver o problema do Hamas só destruindo o seu arsenal de foguetes, se você não der uma estrutura de governança para este povo que é recrutado em cima das causas que o Hamas utiliza”. Com o fim da trégua das hostilidades, novas estratégias ditam os próximos passos do conflito, como analisou o major. “Israel manterá um perfil de estabilização da área, reduzindo a postura combativa e ofensiva, mantendo mais o controle da população e propiciando um ambiente para que seja estabelecida uma governança”, afirmou. Segundo especialistas, apesar das ameaças crescentes do grupo Hezbollah, do Líbano, na fronteira norte de Israel, a possibilidade de adesão de outras nações no conflito é remota. Ainda assim, a ONU (Organização das Nações Unidas) e as maiores potências globais acompanham de perto o desenrolar do conflito, enquanto as perspectivas de paz seguem distantes.