Comitê de Política Monetária do Banco Central defendeu a ‘firme persecução’ das metas fiscais estabelecidas e alertou para o ‘ esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal’
PEDRO LADEIRA / AFP
Fachada do Banco Central do Brasil
Nesta terça-feira, 7, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central publicou sua ata oficial após decidir baixar a taxa básica de juros (Selic) de 12,75% para 12,25% ao ano na semana passada. Esta foi a terceira redução seguida após um período sete manutenções consecutivas e o menor patamar desde março de 2022, quando a taxa de juros estava em 11,75%. O Comitê reforçou que a política de redução de 0,5 ponto da Selic deve se manter nas próximas reuniões, mas alertou para as incertezas geradas em torno da execução da meta fiscal e do pagamento das contas públicas. “O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco. Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, afirma a ata.
Apontamento do Copom vem em meio a dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta fiscal de déficit zero em 2024, que surgiram após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmar que “dificilmente” a gestão conseguiria fechar as contas públicas no zero a zero. O objetivo já era visto como ambicioso e otimista por diversos analistas, mas a fala do mandatário fez com que se gerassem dúvidas sobre a capacidade da equipe econômica de cumprir seus acordos e ter responsabilidade fiscal, além de gerar um desconforto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que segue defendendo o cumprimento da meta fiscal. O Copom ainda destacou que o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública” são fatores que podem levar a uma futura elevação na taxa de juros neutra da economia. De acordo com o Boletim Focus, o mercado financeiro ainda estima que a inflação vai encerrar o ano em 4,63%, dentro do limite de tolerância da meta (4,75%). Para 2024, a projeção foi ajustada para 3,91%, mas segue dentro da margem.
Além de alertar para o cumprimento da meta fiscal e a continuidade de reformas econômicas que propiciem uma melhor gestão das contas públicas, o Copom também aponta para incertezas no campo econômico global. “O cenário internacional, no entanto, tem se mostrado mais volátil e adverso (…) O Comitê é unânime em avaliar que o aumento da incerteza no cenário global exige cautela”, aponta o Comitê. Segundo a ata, o ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas, o que requer atenção e cautela por parte de países emergentes, como o Brasil.